Fim da escala 6×1: qualidade de vida ou impacto na economia?

A luta por jornadas de trabalho mais humanas é uma das mais antigas bandeiras dos sindicatos. Foi graças à mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras que conquistas como a jornada de oito horas e o direito ao descanso semanal remunerado se tornaram realidade. Hoje, o debate sobre o fim da escala 6×1 – em que se trabalha seis dias seguidos para descansar apenas um – retoma esse espírito de mudança, trazendo à tona questões de saúde, qualidade de vida e produtividade no trabalho.

A proposta é liderada pelo movimento Vida Além do Trabalho e pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), que apresentou uma Emenda Constitucional (PEC) para transformar essa escala em um modelo mais equilibrado para todos os trabalhadores brasileiros. Mas o Brasil está pronto para essa mudança?

O que o mundo pode nos ensinar sobre jornadas reduzidas

Países como França, Alemanha, Finlândia e Espanha têm mostrado que reduzir a carga horária semanal traz benefícios significativos. Na França, por exemplo, a jornada de 35 horas já é lei desde o início dos anos 2000, enquanto a Alemanha permite jornadas flexíveis entre 36 e 37 horas por semana. Em Portugal e na Finlândia, experimentos com semanas de quatro dias revelaram aumento na produtividade e maior satisfação dos trabalhadores.

Estudos também apontam que a redução da jornada diminui o estresse, melhora a saúde mental e física e reduz afastamentos por problemas de saúde. Esses modelos, além de melhorar a vida dos trabalhadores, ajudam a criar novos postos de trabalho, uma medida especialmente valiosa para economias que buscam reduzir o desemprego.

Para o Brasil, adotar essas práticas exigirá um equilíbrio entre avanços históricos e a realidade do mercado de trabalho local, que ainda enfrenta desafios como informalidade, alta desigualdade salarial e setores dependentes de mão de obra intensiva.

Por que o fim da escala 6×1 é urgente no Brasil

A escala 6×1 é uma das mais desgastantes, pois oferece apenas um dia de descanso semanal. Isso impacta diretamente a saúde mental, a qualidade de vida e a convivência familiar de milhões de trabalhadores e trabalhadoras.

Para as mulheres, a situação é ainda mais grave. Elas não apenas cumprem jornadas remuneradas exaustivas, como também acumulam responsabilidades com os cuidados da casa, dos filhos e de familiares idosos. Sem um dia real de descanso, enfrentam um desgaste físico e emocional que agrava as desigualdades de gênero no mercado de trabalho e na sociedade.

A luta pelo fim da escala 6×1 é, portanto, mais do que uma demanda trabalhista: é uma questão de saúde pública, equidade de gênero e dignidade.

Os desafios e caminhos para a implementação no Brasil

A mudança é urgente, mas a transição para um modelo sem a escala 6×1 deve ser bem pensada. Muitos setores dependem da alta disponibilidade de mão de obra, como o varejo, a indústria e os serviços de saúde. Adotar jornadas reduzidas pode demandar:

  1. Revisão de contratos coletivos: Negociações sindicais para ajustar cargas horárias e salários.
  2. Políticas públicas de incentivo: Subsídios ou incentivos fiscais para empresas que contratarem mais funcionários.
  3. Planejamento setorial: Identificar áreas onde jornadas menores são mais viáveis e garantir a transição de forma justa.

A PEC proposta precisa ser debatida com responsabilidade e ampla participação de todas as partes interessadas. A viabilidade econômica e social da mudança depende de negociações justas entre sindicatos, empresas e governo.

Como você pode ajudar essa luta?

A aprovação de uma PEC exige o apoio da maioria dos parlamentares no Congresso, e isso só será possível com pressão social. Participe assinando petições, compartilhando informações e cobrando os representantes eleitos. Sem mobilização, a proposta corre o risco de ser engavetada, perpetuando um modelo exaustivo e insustentável.

Se aprovada, essa medida trará benefícios como mais tempo para a família, redução de afastamentos por saúde e maior qualidade de vida para quem trabalha. É o momento de transformar o trabalho no Brasil, tornando-o mais humano e sustentável para todos e todas.